Por Cláudia Schüffner | Do Rio
O geólogo Milton Franke assume a presidência da HRT no lugar de Márcio Mello, que surpreendeu o mercado ao renunciar ao cargo de principal executivo
A renúncia de Marcio Mello à presidência executiva da HRT, divulgada na sexta-feira à noite, é mais um capítulo da turbulenta história pela qual passa a companhia petrolífera que teve sua oferta inicial de ações em 2010. Ontem, as ações caíram 17,39% na Bovespa, cotadas a R$ 3,80, revertendo alta de 10,8% no fim da sexta-feira, quando a ação começou a ter uma inexplicada alta por volta das 15h, enquanto o conselho de administração estava reunido. No dia, a partir daquele momento, o papel da empresa chegou a subir 12,6% durante o pregão, sem nenhuma notícia pública que justificasse.
O geólogo Milton Franke, presidente da HRT Óleo e Gás, que explora na Amazônia, assumiu a presidência no lugar de Mello, que também deixou a presidência do conselho pouco dias atrás e ainda permanece como conselheiro. Ontem, eram fortes as especulações de que a saída de Mello foi provocada por indícios, não confirmados ainda, de que o primeiro poço que a companhia está perfurando na Namíbia é seco, ou seja, não tem um reservatório de petróleo. A companhia também perfura um poço na bacia do Solimões em busca de óleo.
Além de Mello, o presidente da HRT America e responsável pelas operações na Namíbia, Wagner Peres, também renunciou ontem, o que reforçou as suspeitas. A assessoria da HRT informou que a direção da companhia não vai se pronunciar antes da teleconferência para divulgação dos resultados, marcada para esta quarta-feira.
Na segunda-feira passada Mello disse ao Valor que esperava concluir em dez ou 15 dias o primeiro poço em águas profundas da Namíbia, a um custo estimado em US$ 70 milhões. Segundo fontes ouvidas pelo Valor, a perfuração do poço na Namíbia já terminou e só faltam encerrar os perfis elétricos, que trazem informações mais detalhadas sobre o material obtido pela sonda. O prazo de 10 dias vence nesta quarta.
Mello surpreendeu os membros do conselho da administração na sexta-feira, quando disse que iria deixar o cargo no meio de uma discussão no segundo dia de reunião. O clima ficou mais difícil na HRT a partir da intervenção do Discovery, que nomeou mais três membros independentes do conselho. Os acionistas da HRT estão mostrando um perfil mais "ativista". Além do Discovery, o Southeastern e até o MSD Capital, de Michael Dell, votaram a favor de membros independentes, exigiram inclusive a criação de um conselho fiscal, que a HRT não tinha.
Conselheiros disseram ao Valor que na sexta-feira foi tentado que Mello mudasse de ideia e esfriasse a cabeça durante o fim de semana, mas pouco antes das 22h foi divulgado fato relevante sobre a saída dele. Naquela altura, John Willot, novo presidente do conselho, embarcava para San Francisco.
Na semana passada, quando recebeu o Valor para uma entrevista, o executivo estava animado com as perspectivas de desenvolvimento de novas áreas no campo de Polvo, comprado da BP há pouco mais de uma semana. Polvo é um campo maduro, com a produção declinando - a perspectiva é de que não produza mais a partir de 2017 - mas a HRT estava confiante de que poderá dar uma sobrevida ao reservatório.
Em um comentário para alguns clientes do BTG Pactual, o analista Gustavo Gattass lembrou que o resultado tanto da perfuração na Namíbia quanto de um novo poço no Solimões (Amazônia) são algo "muito pessoal" para Mello. Como observou o analista, as duas perfurações estão muito próximas de dar resultados e um sucesso exploratório, com descoberta relevante, principalmente de óleo na costa africana, seria a oportunidade dele sair da presidência da HRT em grande estilo.
A renúncia, para Gattass, pode significar "o oposto, ou seja, o anúncio de nenhum sucesso". O analista encerrou dizendo que não ter Mello na HRT pode dar mais vida ao caixa da empresa, "mas pode ser menos divertido também", em referência à sua personalidade exuberante.
FONTE: VALOR ECONÔMICO
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